Natanael Otávio, Ivanio Pizza, Magali Tanaka, Daiane Cristina e Luiz Lima. |
No dia 28 de Setembro de 2016 o Grupo Semeando Poesias teve mais uma apresentação do Projeto Sarau Entre Amigos, com o tema Palavras Sentimentos, que aconteceu na Escola Estatual Profª Tsuya Ohno Kimura.
Agradeço aos alunos, pelo ótimo acolhimento e resposta aos textos declamados, a professora Lidiane Faustioni, pelo convite e parceria com o grupo, a diretora Rosemer Déo de Oliveira, por nos receber super bem, e ao amigo e fotógrafo Vini Tolentino Mantovani, pelas ótimas fotografias. As atividades do grupo “Semeando Poesias” contemplam leitura e declamações de poesias e outros textos literários e a música (com o músico e interprete Ivanio Pizza). Com textos de autores consagrados, nacional e internacional, textos de autores da região, além de textos de autoria dos escritores do grupo: Luiz Lima e Natanael Otávio.
Fotos e trechos de algumas poesias e canções apresentadas:
“A razão só entende a
letra. Mas a alma só ouve a música. O segredo da comunicação é a poesia. Porque
poesia é precisamente isso: o uso das palavras para produzir música. Pianista
usa piano, violeiro usa viloa, flautista usa flauta – o poeta usa a palavra”.
Trecho do texto Os limites da palavra, de Rubem Alves.
– Podes dizer-me,
por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
– Isso depende
muito de para onde queres ir – respondeu o gato.
– Preocupa-me pouco
aonde ir – disse Alice.
– Nesse caso, pouco
importa o caminho que sigas – replicou o gato.
(Lewis Carroll)
Alice contra o Sol,
No País do Medo,
No mundo do caos.
Dona das noites de
quem pode pagar por ela,
Alice jurou nunca
mais ver o Sol.
Sofrendo pela
inocência perdida
– lhe tiraram ainda
criança –
Vendendo prazer e
dor...
Alice não acredita no
amor.
Do poema Alice contra o Sol, de Natanael Otávio
Hoje me recuso desvendar
Os mistérios de tua alma.
Nego-me a invadir
Teus pensamentos.
Abdico-me do desejo
De vasculhar teu coração.
Hoje não anseio
Ler os poemas nos muros,
No teu e no rosto das pessoas
Que passam por mim...
Do poema Renúncia, de Luiz Lima
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente!
Do poema Amar!, de Florbela Espanca
Na sequencia: Ivanio, Natanael, Daiane, Luiz, Magali, Lidiane e Rosemer. |
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Retrato (Cecília Meireles)
Eu não tenho mais a
cara que eu tinha,
No espelho essa cara
já não é minha.
Mas é que quando eu
me toquei, achei tão estranho,
A minha barba estava
desse tamanho.
Será que eu falei o
que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o
que ninguém dizia?
Eu não vou me
adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Me adaptar!
Da música Não Vou Me Adaptar, composição de Nando Reis e Arnaldo Antunes
Guardar uma coisa não
é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se
guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a
coisa à vista.
Guardar uma coisa é
olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é,
iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é
vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar
por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela
ou ser por ela.
Do poema Guardar, de Antonio Cícero
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras distantes...
Do poema Timidez, de Cecília Meireles
Disseste tudo ao dizer:
Quando a ausência de mim
Fizer presença em meu ser,
Visitarei a mim mesmo,
Para não me afastar de você.
Quando o peso do dever
Em mim soterrar a alma
Entre os escombros da vida,
Quero flutuar qual pluma
Na leve brisa da calma.
Do poema Não me afastar de você, de Rubem Alves
Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras,
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas.
Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria:
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha pinga, meu vidro de café?
Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.
Poema Leitura, de Adélia Prado
Fotos por Vini Tolentino Mantovani.
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